Meditação

A paz do Senhor caros irmãos e irmãs! Hoje em nosso retiro, vamos ver que o silêncio é muito mais silenciar os lábios, mas que ele é uma forma de oração. Aqui poderíamos perguntar: Mas o que é a oração? Penso que a oração não é nada mais e nada menos que um encontro de dois corações que se amam. Não sei se você já percebeu em um relacionamento seja de um casal ou de grandes amigos, que a medida em que o tempo passa, menos eles precisam utilizar palavras para expressarem aquilo que sentem um pelo outro. Chega um determinado momento do convívio em que eles já se conhecem tão profundamente, que não precisam mais dizer o que agrada e o que desagrada um ao outro. Esse exemplo também poderia ser aplicado ao nosso relacionamento com Deus. Sendo que com Deus é diferente, pois ele nos conhece como dizia Santo Agostinho, mais que nós mesmos, ele é mais íntimo de nós do que nós mesmos somos. Então em nossa relação com Deus, não é Deus que precisa nos conhecer, mas nós é que precisamos conhecer a Ele, e isso só pode se dar, através de uma vida de recolhimento e silêncio.

O monge francês Thomas Merton que escreveu muitas obras sobre espiritualidade, diz que a experiência do silêncio é libertadora, e está repleta do espírito de oração, no silêncio, tudo está incluso. Continua ainda ele, quando me liberto pelo silêncio, quando não estou mais envolvido em calcular a vida, mas em vivê-la, posso descobrir uma forma de oração na qual não há distrações. Esse deve ser o nosso ideal! Chegar ao ponto de nos perdermos no silêncio, para nos encontrarmos nele. Parece paradoxal, mas é isso mesmo. Perde-se no silêncio e encontrar-se, é encontrar-se primeiramente com aquele que quer nos encontrar: Deus. E nos encontrando com ele, certamente nos encontraremos conosco mesmos. Repito: Não vamos chegar a este silêncio de uma hora para outra, mas isso requer tempo e perseverança. Gostaria de trazer mais uma vez aqui o texto que escrevi falando do silêncio no Horeb:

“Fui entendendo que o silêncio no Horeb é muito mais que um simples parar aqui e ali para estar com Deus, mas que era algo muito mais profundo: É um ESTADO DE ALMA! Repito: O silêncio no Horeb não é um parar aqui e ali para ficar em silêncio, mas é um ESTADO DE ALMA ao qual se deve almejar sempre! Aqui gostaria de falar também de outra compreensão que tenho a respeito deste silêncio. Ele não deve ser entendido como um simples silenciar os lábios. Pensar assim seria reduzir o silêncio a algo muito pobre. É um engano achar que silenciar os lábios significa fazer silêncio! O silêncio é muito mais que isso. Ele deve começar antes de tudo no interior do coração e se estabelecer lá. Eu posso estar calado, mas o meu coração pode está imerso em um turbilhão de barulho e agitações. Então é preciso que fique muito claro que não é só um silenciar os lábios, mas acima de tudo, um silenciar o coração. Se o coração souber calar, todo o resto também vai acompanhá-lo.”

O Senhor deseja que cheguemos a um ponto em nossa vida de oração, onde não mais tenhamos dispersão. Só assim é que a nossa vida de oração terá um grande teor de intimidade com Deus. Eu pessoalmente ainda sou muito agitado e disperso em minha oração, mas uma coisa que tem me ajudado muito, sobretudo, quando estou em oração em meio a uma assembleia, é fechar os olhos. Isso me ajuda no processo de interiorização. É como se ao fechar os olhos, eu fechasse uma porta para tudo aquilo que é exterior, e abrisse uma outra para o meu interior. Talvez esse exercício possa ajudar você. Como todos os dias eu proponho um texto bíblico para ser meditado, hoje eu gostaria de propor o texto da parábola do tesouro e da pérola escondida que se encontra no Evangelho de São Mateus capítulo 13,44-46:

O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo. O Reino dos céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.

Leia e releia este texto, medite sobre ele, e depois responda a seguinte pergunta: De que forma este texto está relacionando com o silêncio? Acredito que a esta altura do retiro você já saberá responder... Deus abençoe você e que em tudo Deus seja louvado!

Oração a Nossa Senhora do Silêncio

Nossa Senhora do Silêncio e da Humildade, tu vives perdida e encontrada no mar sem fundo do Mistério do Senhor. Tu és disponibilidade e receptividade. Tu és fecundidade e plenitude. Tu és atenção e solicitude pelos irmãos. Estás revestidas de fortaleza. Resplandecem em ti a maturidade humana e a elegância espiritual. És senhora de ti mesma antes de ser Nossa Senhora.

Em ti não existe dispersão. Em um ato simples e total, tua alma, toda imóvel, está paralisada e identificada com o Senhor. Estás dentro de Deus, e Deus dentro de ti. O mistério total te envolve, penetra e possui, ocupa e entrega todo o teu ser.

Envolve-nos em teu manto, Nossa Senhora do Silêncio

Parece que em ti tudo ficou parado, tudo se identificou contigo: o tempo, o espaço, a palavra, a música, o silêncio, a mulher, Deus. Tudo ficou assumido em ti, e divinizado.

Jamais se viu figura humana de tamanha doçura, nem se voltará a ver nesta terra uma mulher tão inefavelmente evocadora.

Entretanto, teu silêncio não é ausência, mas presença. Estás abismada no Senhor e, ao mesmo tempo, atenta aos irmãos, como em Caná. A comunicação nunca é tão profunda como quando não se diz nada, e o silêncio nunca é tão eloquente como quando nada se comunica.

Faze-nos compreender que o silêncio não é desinteressante pelos irmãos, mas fonte de energia e irradiação, não é encolhimento, mas projeção. Faz-nos compreender que, para derramar, é preciso preencher-se.

Afoga-se o mundo no mar da dispersão, e não é possível amar os irmãos com um coração disperso. Faze-nos compreender que o apostolado, sem silêncio, é alienação; e que o silêncio, sem apostolado, é comodidade.

Envolve-nos em teu manto de silêncio e comunica-nos a fortaleza de tua fé, a altura de tua esperança e a profundidade de teu amor.

Fica com os que ficam e vem com os que partem. Ó Mãe Admirável do Silêncio!

Amém. Nossa Senhora do Silêncio, rogai por nós!

(Autor: Frei Ignacio Larrañaga)